Porque os brasileiros colocam seu dinheiro em títulos de capitalização?

  • 26/01/2018
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Títulos de capitalizaçao

Basicamente, o principal motivo é a falta de informação.

Muitos acreditam que se trata de um tipo de investimento, com sorteios. Como se fosse uma “poupança forçada”. É comum ser ofertada como “uma solução para correntistas desorganizados que não tem o hábito de poupar ou investir e, de quebra, ainda oferece a chance de ganhar um prêmio milionário e resgatar tudo o que se guardou!”

Mas como não existe almoço grátis, neste artigo vamos descrever como funciona esta modalidade financeira.

Capitalização não é um investimento

Nascida na França há mais de 150 anos, se popularizou no Brasil nos anos 30. Na época, era destinada a estimular o hábito de poupar e, em troca, quem participava concorria a sorteios enquanto durasse o seu plano de capitalização.

Regulamentada pela SUSEP, apresenta hoje duas modalidades de pagamento: único e mensal. A mensal, geralmente tem como forma de pagamento o débito automático, autorizado pelo correntista justamente para que o pagamento sempre esteja em dia, já que se atrasar, o titular não participa dos sorteios.

O problema é que não explicam aos compradores as taxas (cotas) cobradas, as penalidades para resgate antecipado e a probabilidade numérica de ser sorteado.

Conforme você verá a seguir, a parte do dinheiro que fica na cota para ser capitalizado (o que sobra para resgatar) são atualizados em geral pela TR, que é a mesma taxa utilizada para atualizar as contas de caderneta de poupança e que sempre fica muito abaixo da inflação, mais uma taxa extremamente baixa de juros, de aproximadamente 0,1% ao mês! (dados SUSEP). Por isso, nem de longe pode ser oferecida como investimento.

Taxas dos títulos de capitalização

Cota de carregamento

A cota de carregamento que em média é de 10%, é destinada para pagar as despesas e dar lucro para a empresa de capitalização. Só que é uma taxa (cota) extremamente alta, ainda mais para os padrões atuais. O Tesouro Direto cobra 0,30% ao ano do valor aplicado!

Cota de sorteios

A cota de sorteios é destinada ao pagamento dos prêmios. Normalmente é 10%, mas pode chegar a 15% de cada depósito realizado no plano. Muitas pessoas acham que são os bancos ou empresas de capitalização que bancam os sorteios. Não é não! É o próprio dono do título!

Cota de capitalização

E finalmente, a cota de capitalização, que é o valor destinado para o fundo de capital, ou seja, é a parte do que você depositou que ficará rendendo, até ser devolvido no momento do resgate. Para essa cota vai o que sobrou depois de pagar a cota de sorteio e a taxa de carregamento e varia de 75% a 50% do valor total de cada depósito realizado no plano.

Penalidades para resgates antecipados

Essa é parte mais cruel deste produto e raramente alguém explica ao comprador o quanto essas taxas são altas.

Como o resgate antecipado é só referente aos valores da cota de capitalização, de largada já temos a redução de algo como 25% (que é a soma da cota de sorteio e carregamento). Na página da SUSEP, como resposta à pergunta “15 – O título pode ser resgatado a qualquer momento?” Temos:

Se, por exemplo, o titular solicitar o resgate após ter efetuado 2 pagamentos (2 x R$10,00 = R$20,00), ele terá direito a 27,16% do valor que pagou, resultado, então, em R$5,43 (27,16% de R$20,00).

Já se o titular permanecer até o final do título, tendo, portanto, realizado 09 pagamentos (9 x R$10,00 = R$90,00), ele terá direito a 71,48% do que pagou, ou seja, a R$ 64,33 (71,48% de R$90,00).

Em ambos os casos acima, sobre os valores, ainda, incidirá a atualização monetária.

Na pergunta seguinte “16- Ao se resgatar o título, ao final do prazo de vigência, não se recebe tudo o que foi pago?”, a SUSEP esclarece:

A resposta irá variar de título para título. Nas Modalidades Tradicional e Compra-Programada há obrigação prevista em Norma para que o resgate seja, no mínimo, igual ao montante pago. Cada empresa define no seu título o percentual, em relação aos pagamentos realizados, que será restituído ao titular quando do resgate. O consumidor, antes de assinar a proposta, deverá observar nas Condições Gerais do título tabela semelhante a que foi mostrada na pergunta anterior, verificando, assim, o percentual a que terá direito.

Se o título fosse da modalidade tradicional e o titular ficasse até o final do prazo de vigência, receberia, no mínimo, R$ 90,00.

Para finalizar esta parte, vale ler também a resposta da pergunta “18 – Aplicar em título de capitalização é o mesmo que aplicar em poupança?”

Título de capitalização não é a mesma coisa que caderneta de poupança. O título de capitalização é um produto comercializado somente pelas Sociedades de Capitalização através de títulos que são previamente aprovados pela SUSEP. Seu capital de resgate será sempre inferior ao capital constituído por aplicações idênticas na caderneta de poupança, já que, dos pagamentos efetuados num título, desconta-se uma parte para custear as despesas administrativas das Sociedades de Capitalização e, quando há sorteios, uma parcela para custear as premiações.

Quem tem um título de capitalização foi informado sobre isso?

Usos positivos dos títulos de capitalização

Modalidade de incentivo

Muitas empresas utilizam essa modalidade financeira para realização de promoções ou realizações de programas de incentivo de retenção de clientes e colaboradores. Geralmente as empresas transferem a titularidade e o agraciado concorre aos prêmios. O custo é 100% da empresa!

Garantia locatícia

Uma opção para solucionar a ausência de fiador para um imóvel. Várias empresas oferecem e vale a pena pesquisar.

Conclusão sobre títulos de capitalização

Sempre que oferecerem um plano de capitalização leia atentamente as suas “Condições Gerais”. Busque informações na SUSEP e demais órgãos vinculados, como a FenCap. Caso se sinta lesado, entre em contato com a Ouvidoria do Banco, registre no Reclame Aqui e no Banco Central.

Para poupar ou iniciar uma acumulação de capital, não precisamos “pagar caro” por isso. Esse discurso que brasileiro é desorganizado, que é esquecido, gasta tudo que ganha e precisa ser forçado a fazer uma capitalização para ter algum dinheiro, é um discurso perverso e que só faz os bancos e as empresas de capitalização ganharem dinheiro.

O brasileiro precisa é de informação para não aceitar mais este tipo de comercialização.

Não compre mais gato por lebre!

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