Carta do gestor: junho 2021

  • 18/06/2021
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A economia brasileira tem muito mais gás do que se imagina

Em nossa carta anterior brincamos com a frase de Warren Buffet que diz: “quando a maré baixa é que se descobre quem está nadando nu”. Sem minimizar os problemas brasileiros, olhávamos sobre um ângulo que mostrava que as coisas não estavam tão ruins quanto se imaginava.

O Brasil foi contagiado por uma onda de mau humor, especialmente ao longo de fevereiro e março. As projeções de crescimento diminuíram muito, ao mesmo tempo em que se previa um grande avanço da inflação e do problema fiscal.

Mas os resultados das empresas no primeiro trimestre mostraram que o crescimento não havia sido tão impactado pelas medidas restritivas da segunda onda da Covid-19 quanto se pensava. O resultado do PIB reforçou essa tese e mostrou que a economia brasileira tem muito mais gás do que se imagina. Outra coisa que surpreendeu para cima foi a arrecadação do governo.

Com tudo isso, as projeções – mais uma vez – mudaram abruptamente. A inflação continua persistente (porém, esse não é um problema exclusivo brasileiro), mas o crescimento começa a ser projetado em níveis acima de 5% para 2021.
E o grande pivô para essa retomada é a volta da normalidade, esperada com a vacinação da população. E nesse sentido, também entendemos que haverá uma surpresa positiva. Além da disponibilidade maior de vacinas por parte dos laboratórios, um grande erro de cálculo foi sanado quando se deixou de vacinar apenas os grupos de risco e voltou a vacinar por idade. O erro foi que os grupos foram mal dimensionados e as vacinas começaram a sobrar.

Esse fato será um grande impulsionador da economia, já que os hábitos de convivência e consumo serão retomados. O setor de serviços – que foi um dos mais afetados – deverá ter grande impulso e, com ele, inflexão da curva de desemprego.

Se considerarmos apenas a população adulta (elegível a vacinação), a imunização nos grandes centros já ultrapassa os 50% (em primeira dose). Considerando ainda que muitas pessoas, por decisão própria, não irão tomar a vacina, é bem possível que até o fim de agosto já se tenha vacinado toda a população disposta a isso.

Confira a nossa análise semanal do cenário macroeconômico com foco nos investimentos, por Alexandre Amorim, CGA.

No meio disso tudo, também vivemos um momento único de expansão das empresas. Nunca se viu tantos negócios acontecendo ao mesmo tempo. Emissões, ofertas públicas, aquisições, fusões, concessões e investimentos estão a todo vapor.

Claro que existem riscos. A retomada da inflação pode gerar aumento de juros e, consequentemente, desestímulo do crescimento. Por enquanto, isso ainda não é um grande problema, pois mesmo com juros na casa dos 6%, essa taxa ainda é interessante para quem precisa se financiar para crescer.

Resta saber o quão persistente é essa inflação. O FED tem insistido na tese de que a inflação é temporária, mas vários fatores são constantemente reavaliados, já que esse movimento tem várias origens. Alguns resquícios da origem ainda existem (dinheiro disponível na mão das pessoas que geravam demanda, contra restrições de produção e logística que geravam problema de oferta). Por outro lado, a situação tende a se normalizar. E, pouco se fala na digitalização das empresas ocorridas nesse período, que gerou grande aumento de eficiência e tem força deflacionária no médio prazo.

Correndo por fora, está (sempre) nossa situação política. Temos uma janela fenomenal para tocarmos a agenda de reformas e, ao que tudo indica, poderemos ter a tributária e administrativa aprovadas ainda este ano. Fora dos holofotes – mas tão importantes quanto – vários outros temas têm sido aprovados no congresso, também com grande impacto no ganho de eficiência – pública e privada.

Apesar do bom humor, sempre gostamos de ressaltar os problemas estruturais brasileiros – frequentemente ligados à política. Mas, mais uma vez, temos uma grande oportunidade pela frente.

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