Carta do Gestor: junho/2017

  • 05/06/2017
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O Brasil, definitivamente, não é para amadores.

Volta e meia se escuta essa frase nos mais diferentes contextos, mas o cenário político/policial/econômico brasileiro no mês de maio foi o melhor exemplo prático do que isso quer dizer.

Recapitulando um pouco, desde o impeachment de Dilma Roussef o mercado estava em clima de lua de mel. O governo Michel Temer, que hoje é tratado como oposição, mas que de fato era o vice-presidente eleito em 2014, sabia que a única coisa que lhe dar alguma credibilidade seria fazer a economia voltar a crescer.

Num primeiro momento ele nomeou ou dream team para comandar o Ministério da fazenda e o Banco Central, dando total autonomia para que eles controlassem a inflação e com isso pudessem reduzir a taxa de juros. E isso de fato foi feito.

Mas um dos principais problemas do Brasil era o fiscal, ou seja, que ele gastava mais do que podia. E o governo também vinha fazendo a sua parte – aprovou a PEC dos gastos e colocou em pauta uma agenda de reformas, dando ênfase para as mais necessárias:  a trabalhista e da previdência.

Com isso conseguiu reconquistar a confiança dos investidores. Como já dissemos por aqui anteriormente, muitas vezes a própria expectativa é a força propulsora das mudanças. E como o mercado antecipa os fatos, a expectativa de melhora trouxe dinheiro dos investidores, fez a bolsa subir, juros e câmbio caírem. Números melhores são benéficos para a economia, aumentam ainda mais a confiança e fazem as pessoas voltarem a consumir, acabando por gerar um ciclo virtuoso.

Ainda estávamos (ou estamos) no início desse possível ciclo. As reformas estavam encaminhadas e o mercado financeiro apostando fortemente nessa retomada do crescimento. Ok, com exceção de alguns eleitores do PT, todo mundo sabia que Michel Temer fazia parte desse governo desde 2010 e era evidente o envolvimento nos escândalos de corrupção. Mas ninguém esperava que uma notícia bombástica viria a tona, com o mercado já fechado e, pior ainda, sem que os fatos pudessem ser devidamente apurados.

Com isso voltamos a viver um drama parecido com o da crise de 2008. A bolsa despencou logo na abertura disparando o circuit breaker – dispositivo que faz o pregão parar as negociações para tentar esfriar os ânimos dos investidores. Dólar e juros dispararam e, ao longo do dia, já se dava como certo a renúncia do presidente.

Os estragos só não foram piores porque o mês começou extremamente animador. Durante as duas primeiras semanas parecia que teríamos um dos melhores meses do ano para os investimentos. Dois dias antes da notícia, os juros reais pagos pelo governo nas NTNs foram os menores em quase cinco anos. E em um dia tudo isso mudou de forma drástica ou, como se diz no mercado, subiu de escada e desceu de elevador.

De fato, o cenário econômico já é mais tranquilo. A inflação controlada deixa espaço para os juros caírem e isso é ótimo para a economia. Por outro lado, uma postergação nas reformas pode agravar de forma contundente o nosso problema fiscal e trazer de volta o risco de insolvência do país.

Ou seja, a incerteza voltou a reinar! E a incerteza é a maior inimiga dos investidores. Ainda existe um clima de que, qualquer que seja o governo que vai chegar a 2018 e também o que vai conduzir a partir de 2018, será inevitável se manter a responsabilidade fiscal e a responsabilidade com a economia, mas de fato, estamos novamente nas mãos do destino. Isso faz com que a cautela seja a palavra de ordem na hora ´para as carteiras de investimento – até porque a crise pode nos trazer oportunidades, mas é preciso esperar calmamente pelo momento certo. Definitivamente, o Brasil não é para amadores.

Alexandre Amorim, CGA, CFP®


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