Carta do Gestor: julho/2017

  • 05/07/2017
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Que semestre! Que ano! Que década! Estamos vivendo tempos difíceis, em que certezas se transformam em dúvida num piscar de olhos, e que fica muito difícil se fazer qualquer previsão de longo prazo.

Continuamos com a política ditando os rumos da economia e com a justiça tropeando os rumos da política.

Mas em meio a todo esse cenário, podemos ter uma grande convicção – a inflação foi finalmente estancada. O IGP-M mostrou deflação (taxa negativa) novamente em junho e já acumula uma queda de quase 2% no ano. Lembrando que o IGPM é um índice mais volátil e não é raro que apresente deflação – mas também não é comum que apresente queda no ano ao fim do primeiro semestre.

Já o índice oficial de inflação, o IPCA, continua vindo abaixo do esperado por analistas e deve também apresentar deflação em junho. Com isso, é provável que a inflação acumulada em 12 meses fique muito próxima ou até abaixo de 3%, que é o piso atual para a meta do governo (meta de 4,5% com tolerância de 1,5% para cima ou para baixo).

O que é peculiar é que já tivemos, ao longo desses últimos 23 anos de estabilização da moeda (desde o plano Real) muitos momentos de inflação nesses patamares. Mas foram sempre momentâneos e, logo em seguida, ela voltava a subir. E agora, tudo indica que teremos uma inflação realmente baixa, por um longo período de tempo.

Como prova dessa queda consistente, o Conselho Monetário Nacional reduziu a meta de inflação para 2019 dos atuais 4,50% para 4,25% e em 2020 para 4,00%. A primeira redução até já era já era esperada pelo mercado, mas a segunda foi relativa surpresa.

E isso abre espaço para uma queda maior da SELIC. Desde a crise desencadeada pela gravação de Joesley Batista envolvendo Michel Temer, o BC sinalizou que poderia diminuir o ritmo de cortes e o mercado passou a acreditar em uma queda entre 0,5% e 0,75%. Agora já se fala em uma queda de 1% na reunião do final de julho (25/7). Independentemente do tamanho do corte, é fato que a SELIC virá para baixo de 10% ainda esse mês.

E na política, tivemos mais um mês daqueles! Ameaça de delação de Palocci, que em seguida  foi sentenciado a 12 anos de prisão. Aécio Neves reconduzido ao Senado, liberdade concedida para sua irmã, seu primo e para Rocha Loures. Raquel Jorge foi indicada para suceder a Rodrigo Janot na PGR e a chapa Dilma-Temer foi absolvida pelo TSE. Mas isso não foi um alívio para Michel Temer, já que foi denunciado criminalmente ao STF que, por sua vez, só o julga se a Câmara permitir.

Isso joga um peso muito grande em cima do governo que, ao invés de articular para a aprovação das reformas passa a articular para se manter no cargo. E isso significa mais concessões e menos reformas de fato.

O grande problema de quando as decisões econômicas dependem da política é que políticos vivem num mundo à parte, só deles, e aproveitam esse ‘poder de barganha’ para conseguirem benesses. Como diz o ex Ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, os políticos não tomam suas decisões antes que o problema chegue à beira do precipício. O problema é que, nesse ponto, qualquer escorregão pode ser fatal!

O prognóstico mais provável no momento é que o governo se arraste até 2018, as reformas – especialmente a da Previdência – têm pouca probabilidade de passar e, se passarem, serão completamente distorcidas. Enquanto isso vamos sobrevivendo, ao som das notícias, com um alicerce muito frágil que nos deixa mais suscetíveis a qualquer problema – especialmente os externos. Mais isso é assunto para um outro capítulo…

Alexandre Amorim, CGA, CFP®


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