Carta do Gestor: setembro/2017

  • 05/09/2017
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É impressionante a quantidade de acontecimentos recentes. Agosto foi mais um mês daqueles, em que tivemos acontecimentos para “um ano inteiro”. E, apesar de tudo isso, o mercado continua calmo. Não só calmo, mas animado!

Na política a pauta foi longa: votação da denúncia contra Michel Temer, que foi rejeitada pela Câmara; reforma política com ênfase nas regras para as próximas eleições, incluindo aí o tamanho do fundo partidário; envio para o congresso da revisão da meta fiscal, aumentado o rombo para 2017 e 2018; a votação da substituição da TJLP pela TLP; e, por fim, a divulgação da intenção do governo de promover uma série de privatizações.

Na economia, tivemos a divulgação de diversos balanços relativos ao segundo trimestre e os resultados foram bons. Na verdade, como as vendas sofreram muito nos últimos tempos as empresas se viram obrigadas a enxugar os custos ao extremo. Agora, qualquer aumento nas receitas se traduz em importantes ganhos nos resultados. Muito importante também foi a divulgação do PIB do segundo trimestre, que teve alta de 0,20% (divulgado no primeiro dia de setembro). Mais importante do que o próprio número, que não foi tão expressivo, é a origem do resultado – já que o PIB foi puxado pela alta do consumo das famílias.

Em 13/09/17 publicamos uma edição extra. Confira!

Continuamos com índices de inflação muito baixos. O IPCA de julho veio até um pouco acima do esperado pelo mercado mas, mesmo assim, o acumulado em 12 meses está em 2,71%, ou seja, abaixo do piso da meta que é de 3%. Isso dá, inclusive, alguma margem de manobra para o governo caso seja necessária provocar alguma oneração de impostos para aumentar a receita. O assunto que está na pauta, no momento, é o aumento dos tributos sobre o cigarro.

O fato é que o mercado está animado. Fechamos o mês de agosto com o índice da bolsa de valores muito perto do seu maior valor histórico que foi atingido, ainda em 2008, após a divulgação do investment grade e antes da crise americana. O câmbio e os juros também recuaram para os valores que estavam antes do “cavalo de pau” que aconteceu no mercado em maio, após a divulgação dos áudios de Joesley Batista com Michel Temer.

Mas o que esperar daqui pra frente?

É consenso de que o mercado vem se descolando da política. Aliás, cada vez mais fica claro que o nosso congresso vive num mundo à parte, alheio e isolado da vida real. Mas apesar de todas as “barbeiragens” de Brasília, aparentemente a equipe econômica vem conquistando seus objetivos. Se ainda há muita dúvida sobre o futuro da reforma da previdência, algumas vitórias menores têm sido de extrema importância.

O fato do aumento da meta fiscal, que poderia ser considerada uma derrota, acabou se transformando em ponto positivo para Meireles e sua equipe. Isso porque o objetivo do congresso era aumentar ainda mais o rombo e foi o comprometimento de Meireles que fez que, ao fim da divulgação do rombo recebêssemos notas das principais agências de classificação de risco depositando confiança no Brasil.

Outro ponto importante foi a TLP, que equaliza o custo de financiamento do governo. Tecnicamente a TLP vai acabar com a “meia entrada” que algumas empresas (escolhidas a dedo) pagavam para se financiar enquanto todo o resto tinha que pagar a conta arcando com taxas de juros exorbitantes. Mais do que isso, a TLP terá papel importante para manutenção da SELIC em níveis baixos por um bom período de tempo.

Outro ponto importante é o pacote de privatizações. Mais do que apenas uma fonte de receita nesse momento, a privatização trará um ganho muito grande de eficiência, além de fechar diversas “bocas livres” para apadrinhados políticos.

Os bons resultados das empresas e a volta do consumo também podem ser o início do que chamamos de “ciclo virtuoso” no mercado. O aumento da confiança, aliado a um ambiente de taxas de juros baixas, pode promover o aumento do investimento, não só na economia real, mas também a migração dos investimentos financeiros para investimentos de maior risco.

E não estamos falando de pouco dinheiro. Somando apenas pessoas físicas e fundos de pensão podemos chegar a valores que ultrapassam meio trilhão de reais que tem potencial de migrar para investimentos de renda variável nos próximos anos. Isso pode motivar a abertura de capital de muitas e muitas empresas. Também, com o aumento da previsibilidade no cenário, os fundos multimercados devem passar a ter um desempenho muito melhor e, por consequência, se tornarem mais atrativos.

Por último, o mundo está a nosso favor. As grandes economias começam a mostrar crescimento e, curiosamente, sem pressão na inflação. Com isso, o crescimento aparece sem pressionar as taxas de juros, tornando ainda mais propício o ambiente para investimentos de risco.

Ou seja, o Brasil tem sim um grande potencial para a inflexão da economia, retomada do crescimento e uma probabilidade muito grande de que os ativos de risco sejam recompensados. Mas não dá pra esquecer que estamos no Brasil e, aqui, certezas continuam se transformando em dúvidas num piscar de olhos.

 

Alexandre Amorim, CGA, CFP®


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