“O mercado é um pêndulo que sempre oscila entre o otimismo insustentável e um pessimismo injustificável”. Essa frase de Benjamin Graham deve ter quase um século, foi repetida à exaustão por seu mais brilhante aluno, Warren Buffett, e até hoje não foi, de fato, assimilada pelos investidores.
Continuamos vendo o mercado agindo de forma irracional e, junto com ele, investidores excitados em ciclos de alta e apavorados nos momentos de baixa. E, na maioria das vezes, esquecendo dos fundamentos.
O ano de 2021 foi muito ruim para os ativos brasileiros. A guinada populista do governo e o receio com a trajetória fiscal fez os juros voltarem a patamares elevados e afugentou investidores.
Primeiro ponto interessante: investidores brasileiros deixaram a bolsa. Não há estatística para isso, mas considerando que o número de CPFs cadastrados na B3 duplicou nos últimos anos e considerando a base de investidores em fundos de ações, podemos afirmar com certeza que essa é a primeira grande crise para a maioria dos investidores.
Outro ponto é que, enquanto investidores domésticos (brasileiros) saíram da bolsa, o estrangeiro foi comprador. Isso justifica o fato de que muitas das ações ligadas ao mercado doméstico (e que são compradas por fundos de investimento e investidores locais) tiveram desempenho ainda pior do que a bolsa em 2021.
E temos um agravante. Se surfar a volatilidade do mercado já é difícil, muito pior é fazer isso num momento em que a informação circula em quantidade e velocidade inimagináveis há pouco tempo.
O melhor exemplo disso foi no final do ano passado, quando nossa bolsa, depois de seis meses de queda, voltou a operar perto dos 100.000 pontos. Na mídia se via memes e piadas catastróficas, comparações com o mercado exterior e desinformação de todo tipo.
Nesse momento, pouca gente falava que muitas empresas brasileiras estavam com um dos melhores múltiplos da história (mesmo com todo movimento de juros e reprecificaçao de valuations).
Aí começou 2022. O banco central americano inicia o tão comentado ciclo de alta de juros e retirada de estímulos. Por mais que fosse esperado, essas fases são muito sensíveis ao mercado e geram, inevitavelmente, volatilidade. Vimos queda acentuada nas bolsas americanas e perdas ainda maiores nas gigantes de tecnologia.
Para piorar, crise geopolítica na Ucrânia com a possibilidade de uma guerra entre as maiores potências mundiais. Prato cheio para uma debandada dos ativos de risco, queda na Bolsa e alta do dólar em terras brasileiras, certo? Errado!
O que vimos foi a queda acentuada do dólar e alta da bolsa, na contramão dos principais mercados.
Mas por que? O Brasil melhorou? Há mudança de cenário?
Não. A resposta é objetiva, mas seu entendimento, nem tanto.
O Brasil é o mesmo de sempre, com seus problemas de sempre. O pêndulo se tornou otimista demais desde quando Michel Temer fez uma série de reformas micro e macro, que permitiram ancorar as expectativas de inflação e trazer a taxa de juros para patamares de primeiro mundo. Bolsonaro até iniciou no mesmo caminho, mas com a pandemia e a pressão política, deu uma forte guinada que nos trouxe de volta para juros de dois dígitos.
Um dos drivers que mais assustava era a eleição deste ano. Boa parte do mercado já dá como certa a vitória de Lula, mesmo sem saber se ele será o Lula sindicalista dos discursos recentes ou o aliado do mercado que tem o Alckmin como vice.
Qualquer outra possibilidade de terceira via também deverá ser vista como positiva, portanto, o maior risco são os lampejos populistas de Bolsonaro que podem comprometer ainda mais a trajetória fiscal.
Lá fora o cenário deve ser bem mais volátil. A redução dos balanços do FED e a alta de juros americana deve trazer volatilidade. Por mais bem planejado e transparente que seja, um processo de alta de juros é sempre sensível ao mercado. Já a China talvez traga alguma surpresa positiva, com crescimento mais forte e sem o problema da inflação.
Mas, mesmo com a volatilidade lá fora, o Brasil continua sendo um lugar interessante, especialmente com taxas de juros tão altas. A alta recente da bolsa também não foi sistêmica, ou seja, as ações mais líquidas (especialmente ligadas à commodities e setor financeiro) são as mais procuradas pelos gringos no início do ciclo, mas ainda há excelentes pechinchas (ou guimbas do charuto como dizia Graham) por aí.
Por fim, a pandemia ficou para trás. As economias começam a reabrir e os gargalos logísticos e de produção devem começar a se normalizar. Só falta nos livrarmos das máscaras.
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