O mercado de investimentos se revolucionou nas últimas décadas. A verdade é que, se até 10 ou 15 anos atrás acessar bons investimentos era um privilégio exclusivo dos milionários, hoje com um patrimônio disponível para qualquer pessoa de classe média, já é possível encontrar uma gama interessante de fundos disponíveis.

Porém, ao mesmo tempo que o mercado evoluiu bastante, ainda existem diversas más práticas que acontecem - e a raiz de todas elas é sempre o conflito de interesses do modelo de distribuição de investimentos comissionados.

Recentemente, temos ouvido relatos a respeito de uma nova prática sendo adotada por alguns agentes autônomos de investimento, que é incentivar a troca de posições em fundos de investimento na carteira dos clientes de modo a gerar mais receita.

Os vícios do modelo comissionado

Neste informativo Farol, queremos explicar um pouco melhor sobre essa prática para que você possa fugir dela.

Para começo de conversa, é preciso que fique claro para você um pouco mais sobre o que é o modelo comissionado de investimentos. Esse é o método de venda de produtos no mercado financeiro mais comum e praticado atualmente no Brasil, mas está longe de ser o melhor.

Nele, os assessores financeiros são remunerados não diretamente pelos clientes, mas sim pelos produtos que vendem aos clientes - sendo alguns deles mais lucrativos e outros menos.

Imagine que é como se você fosse a um médico e, ao invés de precisar pagar a consulta, ele é remunerado pelos laboratórios pela quantidade de remédios que receita aos pacientes.

Será que, nesse caso, o médico faria o que é melhor para o paciente? Parece absurdo, não? É exatamente o que acontece na distribuição de investimentos no Brasil.

A perversidade da troca de fundos

Nesse cenário, o que alguns profissionais de mercado estão praticando tem raízes no desempenho do mercado financeiro. 2021 foi um ano muito ruim para ações no Brasil e excelentes fundos acabaram tendo desempenho negativo.

Esses fundos costumam cobrar a taxa de performance, que se refere somente ao desempenho deles acima de um determinado índice de referência (o mais utilizado é o Ibovespa nesse tipo de investimento). Essa taxa é cobrada, contudo, referencialmente ao valor de entrada do cotista.

Vamos a um exemplo:

José comprou um fundo de ações que tinha sua cota valendo R$100. No segundo semestre de 2021, o fundo se desvalorizou e sua cota foi a R$90. (desempenho negativo de 10%), enquanto o Ibovespa caiu apenas 2% no mesmo período

Já no primeiro semestre de 2022, esse fundo ganhou muito no mercado e acabou subindo a R$97, bem acima do desempenho do Ibovespa. Nesse caso, o cliente não pagará taxa de performance, uma vez que o fundo ainda está abaixo da chamada “linha d’água”, ou seja, parâmetro que estava no momento em que começou a aplicar nesse produto.

Na prática, porém, agentes autônomos de investimento são remunerados justamente por um percentual das taxas (administração e performance) pagas pelo cliente. Então, para esses profissionais, é financeiramente mais vantajoso fazer com que os clientes vendam cotas em fundos depreciados para entrar em outros com políticas semelhantes e, assim, poder receber o chamado rebate sobre a taxa de performance.

Dados de mercado que buscamos mostram que os fundos de ações vêm apresentando, ao longo dos últimos meses, um fluxo alto de resgates e depósitos simultâneos. Isso está relacionado justamente ao movimento que relatamos, de troca de investimento para gerar mais receita.

A raiz desse problema está justamente no modelo comissionado de distribuição de investimentos. É claro que não são todos os agentes autônomos de investimento que agem assim, somente alguns profissionais com menos ética.

Contudo, é importante que você, investidor, fique muito atento a essas práticas, até porque existem também bons profissionais nesse mercado. Sempre que seu assessor sugerir mudanças no portfólio, questione e entenda melhor se essa movimentação faz sentido.

Na ParMais, não acreditamos no modelo comissionado, e, inclusive, devolvemos os rebates de fundos de investimento em descontos para nossos clientes. Por fim, recomendamos buscar sempre o trabalho de uma casa que seja remunerada pelo cliente e, assim, isenta de conflito de interesses.