"Tenho 68 anos, sou aposentada, viúva e tenho R$5.000.000,00 em bens (investimentos, imóveis e carros), além da casa onde moro, que vale R$2.000.000,00. Quero antecipar as doações desse patrimônio para meus dois filhos (eles têm 45 e 42 anos), mas sem comprometer minha qualidade de vida de hoje até eu morrer. Como você sugere fazer isso?”
Essa dúvida é bastante comum para pessoas que acumularam patrimônio suficiente para terem uma boa renda e, além disso, conseguem pensar em sucessão ainda em vida.
O primeiro passo aqui é transformar em números a frase "sem comprometer minha qualidade de vida de hoje até eu morrer". Perceba que podemos transformar essa frase em dois números diferentes:
- Quanto custa seu padrão de vida atual? Vamos usar R$20.000,00 por mês como exemplo.
- Qual sua expectativa de vida? Vamos usar 90 anos como exemplo.
Ou seja, transformando em números, a pergunta seria: Quanto dinheiro eu preciso ter hoje, aos 68 anos, para ter uma renda de R$20.000,00 por mês pelos próximos 22 anos?
Vamos considerar que os bens tenham um rendimento de 4% ao ano acima da inflação e líquido de impostos ao longo desses 22 anos.
Usando matemática financeira temos:
- Valor presente = ?? → é o que eu quero descobrir
- Valor futuro = 0 → vou consumir o dinheiro e terminar com zero
- Valor anual necessário = R$20.000 x 12 meses = R$240.000 → consumo anual
- Rendimento = 4% → quanto rendem os bens, acima da inflação e líquido de impostos
- Número de períodos = 22 anos → dos 68 aos 90 anos de idade
Resultado dessa equação é um Valor presente = aproximadamente R$3.500.000,00
Ou seja, com alguma margem de manobra, seria possível doar R$1.000.000,00 para os filhos e também fazer uma doação do imóvel onde você mora (R$2.000.000,00) – neste caso, recomenda-se uma doação da propriedade do imóvel para seus filhos, mas mantendo o usufruto com você.
Espero que este exemplo ajude você ou alguém próximo a refletir sobre antecipação de doações.
Quero destacar aqui uma premissa importante que essa cliente observou: pensar antes na qualidade de vida dela daqui até o final, para depois pensar em antecipar doações para os filhos. Parece óbvio, mas na prática é bem desafiador para os pais.