Você S/A – Deu a louca na economia (de novo)

  • 01/08/2018
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A economia brasileira andava aparentemente estável. Com Henrique Meirelles á frente do Ministério da Fazenda, a crença era de que o país  ensaiava uma retomada. O Brasil voltou a crescer, com expectativa de alta de 3% do PIB, a inflação desacelerou, chegando a 2,84%, menor taxa em 18 anos, e os juros caíram, batendo a meta de 6,5%. Mas o trem descarrilou.

O dólar, até então na casa do 3,20 reais, sofreu uma alta repentina e chegou a ser vendido por 4,30 reais para turistas, a maior cotação desde a época pré-impeachment da presidente Dilma Rousseff, quando a economia do país agonizava. A bolsa de valores, que vinha numa toada positiva, tombou. O índice Bovespa já acumula queda de 8,8%. Em meio à incerteza, até o Tesouro Direto, bastião da renda fixa, teve o programa de compra e venda de títulos suspenso numa manhã de junho por causa da forte volatilidade do mercado.

Dias antes, a greve dos caminhoneiros contra a política de preços dos combustíveis havia parado o país, levado a saída de Pedro Parente da Petrobras e gerado um rombo de 26 bilhões de reais aos cofres públicos, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). Foi o suficiente para derrubar a confiança na já fragilizada economia.

Como se não bastasse, houve revés no cenário externo. A elevação inédita da taxa de juro dos Estados Unidos, um dos muitos efeitos da era Trump, está incentivando investidores estrangeiros a preterir países periféricos, como o Brasil, e a aplicar no território americano. “Esse cenário só melhora se o valor do dólar se estabilizar”, diz Conrado Navarro, autor do livro Vamos Falar de Dinheiro? (Novatec, 45 reais) e sócio-fundador do site de finanças Dinheirama.

Na tentativa de segurar as rédeas da economia, o Comitê de Política Monetária do Banco Central diminuiu a taxa de juro, de 6,75% para 6,5%. Foi o 12º corte da Selic. Mesmo assim, analsitas de mercado não acreditam que a inflação ficará abaixo da meta de 4,5% nem que o país crescerá os 2,5% projetados pelo governo. Para piorar, em três meses, haverá eleições presidenciais e é difícil fazer qualquer previsão. A seguir, VOCÊ S/A mostra o que pode ser feito para proteger seu dinheiro num país em que reinam a imprevisibilidade política e a volatilidade financeira.

Olho na renda fixa

O Tesouro Direto, programa do governo federal de compra e venda de títulos, um dos investimentos mais populares do país, chegou a ser suspenso no mês passado. A paralisação, no entanto, não representa risco para a modalidade.

“São pausas que ocorrem por causa de demanda ou de oscilação nas taxas de juro. Por isso, a grande sacada do Tesouro Direto é pensar no longo prazo”, diz Conrado. Esse tipo de investimento considera se o mercado aceitará ou não as taxas na hora da emissão. Assim, em momentos de alta volatilidade, há suspensão.

Proteja seu dinheiro: a principal recomendação é conhecer os diferentes papéis do Tesouro. Se pretende levar a aplicação até o final, com prazos a partir de 2021, busque os títulos Tesouro IPCA, orienta Jaques Cohen, consultor financeira da Lab do Valor. Já se o objetivo é criar uma reserva de mergência, existem alternativas bem melhores, como o Tesouro Selic ou o CDB de liquidez diária. Para planos de curto prazo, como fazer pós-graduação ou uma grande viagem, o ideal são LCI e LCA, que pagam o percentual do CDI e são isentos de imposto de renda.

Mercado de ações

Em contextos incertos, como os que antecedem as eleições, ter familiaridade com a dinâmica da renda variável é um pré-requisito importantíssimo para arriscar. “Até setembro, pelo menos, haverá muita volatilidade por causa da política”, diz Conrado. De acordo com o especialista, o momento só é interessante para os mais experientes, acostumados a operar ações. “Há, hoje, possibilidade de comprar ativos conhecidos pelo valor de quatro anos atrás.”

Quer apostar? Pesquise muito bem sobre a companhia ou o gestor do fundo em que pretende colocar suas fichas. Como a rentabilidade passada não garante a futura, na dúvida, não invista. Entre as empresas com dividendos mais expressivos estão as do setor financeiro e de energia.

Proteja seu dinheiro: para novatos, em vez de ações, recomendam-se investimentos abseados em perspectivas futuras com boas taxas. Há CDBs pagando acima de 13,5% ao ano em cinco anos. Isso significa praticamente dobrar o patrimônio no período. Conrado dá como exemplo o CDB Fibra pré-fixado (14,5% ao ano e prazo de 2.558 dias) e CDB Pine pré-fixado (13,85% ao ano e prazo de 2.194 dias), ambos com aplicação mínima de 10.000 reais.

Com o Ibovespa na montanha-russa e nenhum analista arriscando previsões seguras, outra opção é aplicar em COE (Certificado de Operações Estruturadas), empacotado de investimento que mescla no mesmo papel ações com títulos de renda fixa. Eles são vendidos por grandes bancos e corretoras. “O investidor pode optar por um indexador nacional ou internacional, o que dá margem para estruturar uma operação mais vantajosa”, diz Francisco Olivieri, especialista em gestão financeira do Instituo Mauá de Tecnologia.

Dólar alto

A depreciação atual da moeda brasileira deriva, em boa parte, da incerteza com relação ao futuro do país: há reformas urgentes a ser feitas e indefinição sobre quem será o próximo presidente. Isso afugenta investidores e enfraquece o real perante o dólar. Por causa disso, alguns economistas projetam patamares acima de 5 reais para a moeda americana até o final do ano.

Proteja seu dinheiro: viagens e compras de importados não planejadas devem ser adiadas até meados de 2019. Como a alta do dólar impacta os preços de todos os produtos que dependem de insumos importados, incluindo o pão francês, pode haver inflação. Portanto, o conselho geral é segurar as finanças ao máximo.

Compras na berlinda

Embora haja risco de inflação, o que prejudica o consumo, há oportunidades nesse cenário. A casa própria é um exemplo. O preço de venda de imóveis residenciais prontos caiu 17%, entre 2014 e 2017, segundo o indíce FipeZap. Mas, claro, é o tipo de compra que precisa ser bem estudada. Se houver dinheiro suficiente para a entrada (e uma reserva de emergência), vá fundo.

Proteja seu dinheiro: “Em momentos de instabilidade recomenda-se ter um saldo equivalente a três meses de despesas pagas”, diz a planejadora financeira Annalisa Blando Dal Zotto. Ela sugere alocar esse valor em títulos públicos, como Tesouro Selic, ou fundos de renda fixa DI, de preferência em corretoras independentes, cujas taxas de administração são mais baratas (até 1% ao ano). De acordo com ela, o único gasto sábio a ser feito agora é em educação. “Quanto mais instável a economia, mais importante é a capacitação para se diferenciar no mercado de trabalho.”

Aumento de impostos

Analistas acreditam que até o final do ano o governo aumente impostos como o IOF (atrelado às movimentações financeiras) para compensar a redução da tributação do diesel, um reflexo nocivo da greve dos caminhoneiros. Historicamente, o controle de preço é compensado logo depois com arrecadação. Vale dizer que os setores da economia que estão sendo beneficiados com a desoneração devem perder o benefício até o final do ano, repassando o prejuízo ao consumidor, que passará a pagar mais caro por itens como gasolina. “Isso pode gerar pressão inflacionária, impactando a taxa Selic”, diz Francisco, especialista em gestão financeira.

Proteja seu dinheiro: estar atento às eleições será fundamental para lidar com as finanças pessoais. A perspectiva é de que a Selic chegue a 8% em 2019. Um possível aumento dessa taxa favorece a rentabilidade da renda fixa, mas prejudica os que precisam tomar dinheiro emprestado. Traduzindo: quem entrar no cheque especial, usar rotativo do cartão ou solicitar empréstimos e financiamentos pagará mais caro. Isso ocorre porque a Selic pauta os juros praticados pelas instituições financeiras. Portanto, é prudente não fazer dívidas nos próximos meses.

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