O Globo – Planos família de fundos de pensão crescem em adesão até na pandemia

  • 15/12/2020
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A pandemia que abateu 2020 não impediu o crescimento dos planos família dos fundos de pensão, criados há dois anos para permitir a inclusão de parentes. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), já são 20 planos em operação, com mais de 27 mil participantes e patrimônio de R$ 206 milhões — e a expectativa é atingir R$ 2 bilhões em dois anos. Eles oferecem baixo investimento inicial (cerca de R$ 100) e taxas de administração abaixo daquelas cobradas nos planos de mercado aberto.

A criação dos planos de previdência familiares foi uma estratégia do setor para contornar o desafio da queda no número de participantes, em um cenário com empresas cada vez mais enxutas, e crescer.

Os planos estão abertos a familiares com até o quarto grau de parentesco, dependendo da regra de cada fundo. Valem desde cônjuges, netos e sobrinhos a cunhados. Por não haver relação trabalhista com a empresa patrocinadora, não há a contrapartida patronal, uma das grandes vantagens dos fundos de pensão. Para compensar, esses planos têm as mesmas características de investimento dos tradicionais, com mais flexibilidade de saque.

Atenção à tributação

O investimento também pode ser vantajoso do ponto de vista tributário. No caso dos fundos de pensão e seus planos familiares, a estrutura é similar a do PGBL, em que o investidor pode descontar o valor investido do Imposto de Renda até o máximo de 12% da renda tributável. Mas o IR é cobrado na hora do resgate.

— A tributação é uma vantagem se o investidor usá-la. Os fundos fechados hoje funcionam como PGBLs, que são a opção mais vantajosa para quem faz a declaração completa de Imposto de Renda, em que se pode abater até 12%. A contribuição acima disso cai em uma dupla tributação na hora do resgate, não sendo indicada. E para quem faz a declaração simplificada não faz sentido, sendo mais aconselhável um VGBL — explica Jailon Giacomelli, planejador financeiro certificado pela Planejar.

— A Vivest está entre os maiores fundos de pensão do país, com R$ 32 bilhões sob gestão, o que nos dá escala e nos permite ter uma taxa de administração de 0,2% ao ano em fundos com estratégia de renda variável, multimercado e inclusive investimento no exterior. Tivemos o dobro da rentabilidade da média dos fundos PGBL. O plano família tem a mesma estratégia, mas com uma carência mínima de apenas dois anos — afirma Luciana Dalcanale, diretora de Previdência da Vivest, antiga Funcesp, que atende a empresas do setor de energia.

Segundo especialistas, qualquer redução de ponto percentual na taxa de administração pode ter um grande impacto no longo prazo. A Vivest tem recebido novos participantes que estavam em fundos abertos PGBL, atraídos pelo menor custo. A gerente de Energia da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), Regina Alice de Souza Pires, de 51 anos, contribuía para os planos da filha, de 20 anos, e do sobrinho, de 23. Assim que pôde, fez a migração para a Vivest:

— Eu acompanhava o meu fundo e o deles, e o meu rendimento era melhor, então migrei. Hoje, acho que eles não veem a importância disso, mas vão me agradecer no futuro. Não entendo muito do mercado financeiro, prefiro opções mais seguras. Estou muito satisfeita com os resultados.

Edécio Brasil, diretor-superintendente da Prevaler, plano família da Valia, fundo de pensão dos funcionários da Vale, cita como vantagens taxas competitivas e um histórico de rentabilidade constantemente acima do CDI:

— Isso traz competição, o que é muito bom para o mercado. De certa forma, os fundos de pensão estão trazendo um novo balizador, podendo até vir a diminuir as taxas como um todo no futuro.

A conexão emocional dos participantes é outro ponto forte para os fundos atraírem novos integrantes.

— Trabalho há 34 anos na Vale. Desde que entrei contribuo para a Valia, porque meu pai, que trabalhou toda a vida na Vale, disse que foi bom para ele. Eu contribuía para as minhas filhas em um banco, e agora, com o plano familiar, fiz a portabilidade para a Valia, que tem melhores condições. Depois elas podem fazer o que quiserem, mas eu vou instruir a deixar para a aposentadoria mesmo —conta João Herminio Lyrio Loreiro, de 59 anos, gerente de Tecnologia da mineradora.

Para qualquer sonho

O parentesco é necessário para entrar nos planos, mas, depois do ingresso, não há problema se o familiar sair do sistema. Para Luiz Claudio Batista, presidente da BB Previdência, esse tipo de ligação é fundamental para o crescimento desses planos:

— Investimos em educação financeira para que nossos participantes incentivem outros a poupar. Uma pessoa da família tem um testemunho muito importante, as pessoas levam isso muito em conta. E queremos mostrar que esse pode ser um investimento não só para a aposentadoria, mas para qualquer outro sonho de longo prazo, como fazer uma reserva para um filho recém-nascido cursar a faculdade.

A maior parte dos que entram são netos e filhos, que não são os que contribuem. O desafio dos fundos no longo prazo será ter uma boa rentabilidade e manter esses jovens poupando dentro do sistema, quando assumirem as rédeas de suas finanças.

O setor espera que 2021 traga estabilização, para que mais pessoas engrossem os planos familiares. A Previ, que administra pouco mais de R$ 200 bilhões em ativos, espera fechar o ano com R$ 20 milhões no plano familiar, diz Wagner Nascimento, diretor de Seguridade da entidade.

— Hoje, os fundos de pensão administram quase R$ 1 trilhão, e é um desafio cuidar desse estoque em um novo cenário, com uma nova relação no mercado de trabalho entre empresas e empregados. Se cada participante trouxer apenas mais uma pessoa, dobraremos de tamanho — afirma Luis Ricardo Martins, presidente da Abrapp.

Confira a matéria na íntegra: https://oglobo.globo.com/economia/planos-familia-de-fundos-de-pensao-crescem-em-adesao-ate-na-pandemia-1-24795548

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