Manual do Usuário – Consórcio gamer e leasing de iPhone: bancões tentam conquistar clientes com crédito para eletrônicos

  • 28/08/2020
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Nunca foi exatamente barato adquirir eletrônicos de ponta, como um computador para jogos ou o celular topo de linha do momento. Nos últimos anos, porém, turbulências na economia e novas estratégias das fabricantes empurraram esses objetos de desejo para ainda mais longe da maioria de nós. Na última semana, coincidentemente, o Banco do Brasil e o Itaú apresentaram novos produtos que prometem diminuir esse distanciamento.

Vamos tirar o elefante da sala logo de cara: é um tanto estranho, para não dizer maluquice, assumir uma dívida com bancos (bancos!!) para adquirir um vídeo game ou um iPhone novo. Por mais que sejam produtos relativamente baratos e que as parcelas caibam no bolso, bancos não têm a fama que têm à toa e, nessa, ao menor deslize aquela parcela pequenininha pode virar uma bola de neve e uma tremenda dor de cabeça por anos a fio.

Dito isso, ainda assim Banco do Brasil e Itaú juram que suas novas ofertas são boas o bastante para conquistar novos clientes ou fidelizar os que já são.

A investida do Banco do Brasil é o chamado Consórcio Gamer. Durante a renovação do portfólio de bens do BB Consórcios, em 2020, o banco estatal considerou “o crescente mercado de e-sports” para incluir bens de referência específicos para o público gamer, com valores que variam de R$ 1.250 a R$ 11 mil, podendo ser parcelados em até 48 vezes. Não é preciso ser correntista e toda a contratação do consórcio pode ser feita digitalmente, pelo app do BB. Entre os itens de referência, estão consoles, kit headset, kit driving, PC gamer e óculos de realidade virtual, todos esses equipamentos para, segundo o banco, “tornar seus jogos ainda mais divertidos e confortáveis”.

Já o Itaú, em parceria com a Apple, lançou o iPhone para Sempre, uma espécie de leasing de iPhone com as parcelas atreladas aos cartões emitidos pelo banco. O cliente interessado paga 70% do valor do celular em 21 parcelas e, no final, se depara com três opções: devolvê-lo; integrar os 30% restantes em um único pagamento e ficar com o aparelho; ou renovar o contrato e trocar o iPhone, a essa altura antigo, por um modelo mais novo.

São duas modalidades pouco usuais no mercado brasileiro para a aquisição de eletrônicos. Por isso, conversei com Alexandre Amorim, planejador financeiro da ParMais, para entender a razão de existir deles — e se compensa a alguém adquirir um Xbox ou iPhone dessas maneiras.

Consórcio Gamer

O consórcio já teve sua época de ouro no Brasil. Antes do plano Real, de 1993, a modalidade era uma boa saída para adquirir bens caros sem sofrer as consequências da hiperinflação. “Todo mundo tinha um consórcio”, diz Alexandre, que, com 45 anos, testemunhou seu próprio pai adquirir nos anos 1980. “Naquela época de inflação alta, era impossível fazer financiamento de longo prazo ou comprar algo na Casas Bahia em 12 vezes sem juros, porque a inflação comia tudo”.

Embora escanteado pela estabilidade econômica das últimas décadas, o consórcio resiste. Para o Banco do Brasil, a inclusão de equipamentos gamers é só mais uma entre várias modalidades oferecidas no segmento “Outros Bens Móveis”. O banco também oferece consórcios para eletroeletrônicos (tablets, computadores, bicicletas digitais) e serviços, que incluem cirurgias plásticas, viagens, festas e cursos. Alexandre lembra que o BB tem um histórico forte na área de consórcios e que esse é um nicho rentável. Com a pulverização de produtos mais comuns desencadeada pela digitalização — pense em contas correntes nas fintechs e investimentos em corretoras digitais —, ele acredita fazer sentido o BB focar em consórcios, onde a competição é menor.

São as fintechs, aliás, que podem explicar a excentricidade de um consórcio de games. “Entendo isso — e é uma opinião pessoal — como uma forma de reter de clientes”, diz o planejador financeiro. Para ele, a iniciativa é uma maneira de fisgar um público que os bancões estão perdendo para as startups financeiras, o do jovem que está começando a ganhar seu próprio dinheiro. “O eletrônico, no caso, é consequência, uma forma de atingir esse público”, prossegue. “Não se trata necessariamente de desenvolver o mercado de eletrônicos, mas sim que o público-alvo [do BB] tem interesse nisso”.

Alexandre diz que, em seu dia a dia, percebe que o brasileiro — seja por necessidade ou falta de educação financeira — é bastante imediatista com o dinheiro. O principal parâmetro para justificar um gasto é se a prestação cabe no bolso. Para quem não consegue ou não tem o hábito de poupar, o consórcio acaba sendo percebido como uma “poupança forçada”, pois há um boleto todo mês gerando a obrigação de guardar uns trocados.

Mesmo que a rentabilidade não seja das melhores, o compromisso ajuda o cliente a poupar — e se a carta de crédito é de um valor baixo, isso significa que as parcelas também são, o que aumenta o apelo para o público de baixa renda, que por motivos óbvios tem mais dificuldade em economizar. No mais, não há nenhuma obrigação para que o valor guardado seja necessariamente usado para comprar o produto do consórcio, o que reforça a característica de poupança forçada do consórcio. O próprio Banco do Brasil destaca isso em sua comunicação:

Importante ressaltar a versatilidade do consórcio do Banco do Brasil: Se o consorciado possui um Consórcio Gamer, ao ser contemplado, ele pode optar por comprar qualquer bem do segmento, por exemplo: ele pode comprar equipamentos Gamer, mas também pode comprar eletroeletrônicos, equipamentos de ginástica ou até instrumentos musicais.

iPhone a prestações infinitas

O Itaú não chama de leasing, mas o seu novo programa iPhone para Sempre tem cara, cheiro e forma de leasing. Em outras palavras, o cliente pode pagar eternamente pelo iPhone e, a cada 21 meses, trocá-lo por um modelo mais novo do celular da Apple.

Para participar, é preciso ter um cartão do Itaú com limite suficiente para cobrir o valor cheio do iPhone escolhido e contratá-lo pelo app do Itaú — aqui também a jornada é 100% digital. Podem ser adquiridos pelo programa os seguintes modelos: iPhone SE, iPhone XR, iPhone 11, iPhone 11 Pro e iPhone 11 Pro Max, e apenas um por CPF.

Segundo Rubens Fogli, diretor de negócios digitais do Itaú Unibanco, o grande diferencial do iPhone para Sempre é estender o parcelamento e, com isso, diminuir as parcelas: “O mercado brasileiro geralmente trabalha com parcelas de até 12 vezes, o que torna o valor de cada parcela mais caro. Agora estamos tornando mais fácil para que mais clientes do Itaú possam desfrutar da experiência de alta qualidade do iPhone — e oferecendo a opção de atualizar para um novo modelo regularmente”. O modelo mais barato, o iPhone SE, começa em R$ 140,91 por mês.

E compensa? Sem fazer contas, Alexandre Amorim, da ParMais, explica que essa resposta depende sim de um cálculo, mas principalmente da relação do consumidor com o celular: “A maioria toma prejuízo com celular porque a depreciação é pior que a do carro”, alerta. Para alguém que troca de celular com frequência, pode compensar, mas àqueles que passam três, quatro anos com o mesmo aparelho (algo cada vez mais comum) e que o revende ou repassa a parentes próximos, não.

Um aspecto que joga contra os aficionados por iPhone novo é o intervalo de troca do programa do Itaú, de 21 meses. Em regra, a Apple lança um novo iPhone a cada 12 meses, o que significa que o participante ficará no mínimo 9 meses com um iPhone defasado. E com a próxima geração na boca do forno, a ser anunciada em setembro ou outubro, alguém que pegue um iPhone 11 agora passará ainda mais tempo com um modelo defasado, o que contraria a promessa do banco.

Confira a matéria na íntegra: https://manualdousuario.net/consorcio-gamer-iphone-para-sempre/

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