A pedido do Manual do Usuário, o consultor de finanças pessoais da Par Mais, Jailon Giacomelli, fez os cálculos dos custos que um carro gera. Ele usou como base um modelo popular avaliado em R$ 40 mil.
Na conta, que Giacomelli classificou de conservadora, este carro custaria R$ 1.276 por mês. Os custos mensais, especificados por ele, seguem abaixo:
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Se você fez as contas, notou que falta R$ 217. Esse valor é uma espécie de “custo de oportunidade”, referente ao que se deixa de ganhar ao não investir o valor do carro. Em uma aplicação simples qualquer, que renda a SELIC (atualmente em 6,5% ao ano), aqueles R$ 40 mil do veículo renderiam R$ 2.600 no primeiro ano.
Note que a conta não considera, ainda, imprevistos. Eles acontecem e são mais frequentes do que imaginamos no dia a dia: panes, defeitos, batidas. Rodar dentro de uma lata de uma tonelada em alta velocidade junto com outras milhares de latas tão pesadas e rápidas quanto é um perigo em si. É um milagre que acidentes de trânsito não sejam mais comuns. Tem também os roubos e furtos, que também não podem ser desprezados e podem gerar prejuízos pequenos, mas relevantes — aqueles que ficam abaixo do valor da franquia, por exemplo.
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“O que as pessoas não consideram nessa conta, e por isso acham que é vantagem ter o carro, é a depreciação (10% ao ano) e quanto esse dinheiro renderia se não estivesse no carro (6,5% ao ano). Tirando esses dois, R$ 1.276 viram R$ 726. Esse ‘custo escondido’, que você não sente no dia a dia, tem que ser considerado”, explica Giacomelli.
Saindo do exemplo, temos um caso real para analisar — o meu. Em novembro de 2018, decidi fazer um experimento1 e ignorar o carro, passando o mês como se ele não existisse. (Só dei umas voltas perto de casa duas vezes para não deixar o carro parado e correr o risco de arriar a bateria.)
Tenho o hábito de anotar todos os meus gastos, então foi fácil saber quanto o carro havia me custado até ali. Peguei o valor, dividi por dez e usei a média do período como referência. Fiz o mesmo com o cálculo da depreciação e aquele “custo de oportunidade”. O gasto mensal ficou um pouco abaixo do da simulação feita acima porque não tinha custo com garagem e o valor do carro era menor.
Os modais que mais usei nesse período foram o ônibus e as caronas pedidas por apps como 99 e Uber. Em termos financeiros, a divisão entre eles foi de 38,5% e 61,5%, respectivamente. E andei bastante a pé — o aplicativo do celular que conta passos apontou um aumento de 33,5% no número deles em novembro em relação à média dos dez meses anteriores.
A diferença no gasto mensal com locomoção foi impressionante: uma economia de 78,2%. Importante dizer: sem nenhuma concessão ou preocupação em não gastar, ou seja, não me abstive de compromisso algum por não ter o carro à mão.
Imagine essa economia o ano inteiro. Por vários anos. Em uma vida.
Fosse apenas pela racionalidade, a gente faria um monte de coisas de maneira diferente. “O subjetivo pesa bastante”, explica o consultor de finanças pessoais. Ele, que costuma atender clientes confrontados pelo dilema de ter ou não um carro próprio (ou mais de um), diz que alguns optam por manter o carro pelo status que o veículo ainda confere. A já referida comodidade, da qual voltaremos a falar em um instante, também é um grande fator que engloba de situações cotidianas, como fazer compras, às eventuais, como viagens curtas para outras cidades.
Colocar todos os gastos na ponta do lápis é importante porque, em alguns casos, a conta se revela favorável ao carro. Giacomelli usa uma família com filhos como exemplo. “Se o ônibus ou a van para a escola custa o mesmo ou mais que a diferença [entre ter e não ter o carro] e o horário é compatível com os dos pais, vale a pena manter o carro. É conveniente, você vai ter o carro para outras situações e a conta fecha”.
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Todos os cálculos e opiniões acima consideram um carro já quitado. Com o carro financiado, cenário muito comum, “a conta não fecha nunca porque tem o custo do juro”, adverte Giacomelli.
Leia a matéria na íntegra: https://manualdousuario.net/viver-sem-carro-proprio/
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