Forbes – 2020 será o ano de educação financeira

  • 07/05/2020
Página inicial - Na Mídia - Forbes – 2020 será o ano de educação financeira

Annalisa Blando Dal Zotto, fundadora e diretora geral da ParMais, é uma planejadora financeira pessoal (CFP), ou seja, aquele profissional que as pessoas procuram para ajudar com a gestão dos seus investimentos, a organização das finanças e a preparação para a longevidade.

À frente da fintech que tem como meta fazer as pessoas mudarem a sua relação com o dinheiro para se tornarem mais livres e a sociedade mais equilibrada financeiramente, Annalisa, que também é líder do Movimento Mulheres do Brasil em Florianópolis e embaixadora da Associação PLANEJAR em Santa Catarina, falou, na entrevista a seguir, como o investidor deve se comportar em momentos tão instáveis como o que estamos vivendo. A especialista também deu dicas de como “programar” nosso cérebro para enfrentar possíveis perdas e seguir adiante no mercado financeiro.

Veja, a seguir, os melhores momentos da entrevista:

Além do questionário padrão que investidores precisam responder, quais alternativas para entender melhor seu perfil?

Avaliar somente se o perfil é moderado, conservador ou agressivo diz muito pouco sobre o investidor. Para se montar uma carteira adequada, além do perfil, é muito importante considerar também outros aspectos, como o momento de vida atual, capacidade financeira e patrimonial e alinhar tudo isso aos objetivos financeiros. Tão importante quanto considerar o perfil do investidor é montar a carteira levando em consideração esses aspectos e, principalmente, os objetivos financeiros de cada um.

Recentemente muitos investidores “tomaram mais risco”. E, em muitos desses casos, eles não seguiram a orientação de seu perfil de investidor. 2020 será um ano de reeducação financeira?

Certamente. Como havia uma forte tendência de alta no mercado de ações do Brasil, muita gente acabou alocando uma posição em renda variável maior do que tolera de risco.

Como a bolsa estava subindo bastante e caindo pouco, ou seja, com pouca volatilidade e em ascendência, naturalmente as pessoas estavam se sentindo mais tolerantes ao risco. No entanto, quando teve uma queda profunda, muita gente perdeu o sono e ficou desesperado. Por isso, com certeza 2020 será um ano de educação financeira.

Como falamos, além de aplicar os recursos de acordo com a tolerância ao risco, é muito importante alinhar os investimentos também aos objetivos financeiros. Se o portfólio foi montado com horizonte de longo prazo, por exemplo, investir em ações pode ser uma boa opção, pois mesmo que ocorra um evento incerto e agressivo, como o que estamos vivendo atualmente, há tempo para recuperar. Porém, para investimentos de curto prazo, como a reserva de emergência, capital de giro ou para quitar uma dívida em poucos meses, não faz sentido aplicar em renda variável. Nesse caso, ativos conservadores e pós-fixados são os ideais.

Vemos que as pessoas possuem “momentos”, ou seja, períodos no qual prestam mais atenção em seu dinheiro. Qual a importância do acompanhamento da carteira?

É muito importante fazer uma gestão ativa da carteira. Se não for possível, por desconhecimento ou falta de tempo, acompanhá-la constantemente, convém delegar essa função para gestores ou consultores registrados na CVM. O que não podemos fazer é ficar sentados no portfólio. As coisas mudam, aquela empresa da qual você comprou papéis pode estar tendo um desempenho ruim, o time de gestão daquele fundo que você tem pode mudar para pior. Além disso, o cenário macroeconômico muda constantemente. Enfim, existem muitas variáveis que, se bem observadas, reduzem perdas e melhoram a rentabilidade.

Por isso, diante de uma mudança drástica de cenário, como essa que estamos vivendo, é muito importante rever e reposicionar o portfólio, para protegê-lo, recuperá-lo ou aproveitar as novas oportunidades. O ruim é ficar paralisado, esperando.

Mais tempo em casa pode ser uma oportunidade, no campo das finanças comportamentais, para criar hábitos de investimento? Quais seriam os primeiros?

O tempo livre pode ser uma excelente oportunidade para se conhecer um pouco mais sobre finanças comportamentais, que descrevem comportamentos que acreditamos ser racionais, mas que, na realidade, não são.

Somos constantemente impactados por atalhos mentais que podem nos impedir de tomar as melhores decisões de investimentos. Esses atalhos consideram poucos aspectos, são previsíveis e repetitivos. Então, quando os conhecemos, podemos aprender a utilizar estratégias para lidar com o nosso jeito de ser.

Uma estratégia que funciona para quem não consegue guardar dinheiro, por exemplo, é começar a economizar qualquer quantia. O importante é começar para adaptar o cérebro, pois ele precisa de um empurrãozinho para se acostumar a uma nova situação. Então, comece guardando pequenos valores. O que der. Se começar com R$ 100, no próximo mês aumente para R$ 200 e vá seguindo desta forma até conseguir juntar mais. E até que isso vire um hábito. Depois que você se acostuma, essa poupança mensal será como um pagamento de uma conta, ou seja, entra na rotina.

Outro ponto importante é saber que a dor da derrota é duas vezes mais intensa do que a alegria da vitória. Então, toda vez que perdemos dinheiro, sofremos muito, ao ponto de nunca mais esquecermos os maus negócios que fizemos. Já quando ganhamos, isso geralmente passa despercebido.

Por isso, uma queda brusca no portfólio provoca um sofrimento enorme. Nesses casos, nosso primeiro pensamento é “eu não posso realizar”, ou “nem quero ver”, porque não se quer passar por todo esse sofrimento. Mas, se nada fizermos, só vamos ficar a deriva. É preciso encarar e agir, racionalmente, sabendo que nosso cérebro trabalhará para sermos omissos ou para procrastinar decisões.

Uma dica para conseguir encarar e rever o portfólio é imaginar que o valor que você tem atualmente estaria totalmente parado na conta corrente. O que você faria? É uma boa pergunta a ser feita. Qual o melhor portfólio que eu posso montar hoje?. Faça essas perguntas. Sem considerar que talvez você tenha que vender alguma posição que saiu perdedora, fica bem mais fácil pensar racionalmente sobre a melhor carteira para esse momento.

Outra possibilidade é observar quanto se tem atualmente por classe de ativos. Exemplo: renda fixa, ações e multimercados. Supondo que tenha um terço de cada, qual seria a melhor opção hoje para compor o portfólio mantendo as mesmas proporções?

Assim, fica mais fácil trocar produtos e ativos, dentro de cada uma das caixinhas. E você driblar seu cérebro, que não vai mais achar que terá que realizar algum prejuízo, porque você somente vai trocar um ativo por outro, com melhor potencial de valorização ou que pode se sair melhor num momento difícil.

Esta é a hora de se conhecer e usar os antídotos contra o nosso jeito de ser, para que possamos fazer a melhor carteira de investimentos.

Leia a máteria na íntegra: https://forbes.com.br/forbes-money/2020/05/2020-sera-o-ano-de-educacao-financeira-diz-annalisa-dal-zotto/

Nossos artigos