Carta do gestor: setembro/2019

  • 17/10/2019
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Há algum tempo temos nos mostrado confiantes com a economia brasileira. Uma equipe econômica muito boa, alinhamento entre o Ministério da Economia e as demais áreas do governo ligadas ao desenvolvimento, excelentes iniciativas para desburocratizar, enxugar o estado e combater ineficiências, agenda e claro, uma agenda de reformas estruturais importantes.

Com isso, se falava em um crescimento significativo do PIB. E isso não foi só para 2019. Assim se falou também para os crescimentos de 2017 e 2018 – e nos 3 anos o crescimento foi menor do que a expectativa.

Quando Ilan Goldfajn e Henrique Meirelles assumiram o Banco Central e o Ministério da Fazenda, ouvi de um gestor uma frase que já repeti algumas vezes “colocaram o carro certo pra rodar e na direção certa, mas a estrada é brasileira”. E a expressão não podia representar melhor o que estamos vivendo.

De fato, deixamos a recessão para trás, mas engatamos uma recuperação muito lenta. E acaba sendo inevitável os questionamentos – estamos no caminho certo? Por que a economia não decola?

Confira a nossa análise semanal do cenário macroeconômico com foco nos investimentos, por Alexandre Amorim, CGA.

Sim, não resta dúvidas que estamos trilhando o caminho correto. O estado brasileiro se transformou numa estrutura complexa, grande, pesada e ineficiente. E manter essa disfuncionalidade custa caro, muito caro. Portanto, as medidas adotadas para enxugamento do estado, ganho de eficiência, diminuição das despesas públicas desnecessárias são fundamentais para ajustar o orçamento. Só assim sobrará dinheiro para o investimento.

Mas isso é complexo e o que estamos vendo é uma real transformação de modelo. Sai o antigo modelo em que o estado era peça chave para movimentar a economia e entra um modelo onde a própria iniciativa privada que tem o protagonismo. Só que, justamente por não depender simplesmente da vontade do governo, é um processo que demora mais tempo e depende de uma série de variáveis. Mas temos convicção de que o alicerce está sendo construído da forma correta.

A queda da inflação e dos juros podem ser considerados grandes vitórias desse novo modelo. Juros baixos são um grande fator de contribuição para o crescimento. Por um lado, as empresas pagam muito menos hoje para se financiar e, por outro, o dinheiro que era canalizado para títulos públicos que davam retornos reais altíssimos e com baixo risco, acabarão sendo direcionados para investimentos na economia real.

O vento contrário vem da desaceleração da economia mundial. O Brasil é exportado de comodities e essa desaceleração nos atinge em cheio. Brasil também é um país emergente e, num cenário como esse, acabamos sofrendo também com a aversão ao risco.

Mas apesar de tudo, o cenário continua positivo. Ao que tudo indica, a economia mundial deve crescer menos, mas não sofrer nenhuma ‘ruptura’, como a que vimos em 2008. Se os juros baixos não trazem mais capital estrangeiro para cá, a economia real é extremamente atrativa – e é muito melhor atrair esse tipo de capital, que tem efeito de longo prazo do que o capital especulativo, que entrava para aproveitar as taxas de juros elevadas.

Muitos tem discutido também as métricas de crescimento. Talvez o Brasil esteja de fato crescendo mais do que o PIB represente – não por “contabilidade criativa” ou qualquer tipo de fraude, mas porque os tempos estão mudando.

A tecnologia e os hábitos das novas gerações, que estão muito mais ligadas a sensações e experiências do que a bens e propriedades, vão ter peso muito maior em serviços do que na indústria (mas isso é uma longa história, para um outro artigo). O fato é que os números de consumo, serviços e aumento da massa salarial são significativos, e crescem a números bem maiores do que as expectativas do PIB.

Vale também um comentário importante quando falamos de juros e inflação. A inflação corrói o poder de compra das pessoas e isso sempre foi mais sentido pela população de renda mais baixa, que tinha menos acesso a investimentos. O juro alto faz com que pessoas que precisem se financiar paguem caro a outros, que tem disponibilidade para investir. Ou seja, inflação e juros altos acabam sendo um grande destruidor de riqueza, especialmente para as camadas mais baixas da população. E a situação atual, com inflação e juros baixos deverá ter um papel importantíssimo no aumento do poder de consumo e qualidade de vida das pessoas.

Acreditamos que o Brasil está em início de um novo ciclo. Mais justo financeiramente, mais eficiente e mais propenso a investimentos. Como sempre chamamos atenção, é um caminho longo e difícil, que afeta uma série de privilégios e privilegiados, mas ao que tudo indica estamos na estrada certa.

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