Carta do gestor: agosto/2019

  • 06/09/2019
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Muito cuidado, pois o caminho está longe de ser fácil

Atual situação econômica do Brasil

O mês de agosto foi marcado pela volatilidade. O embate entre China e EUA – que iniciou como uma disputa por tarifas comerciais, cada vez mais, toma forma de uma guerra pela hegemonia econômica – teve novos e importantes capítulos.

O tom das conversas ficou mais áspero e a expectativa por um acordo cada vez mais distante. O resultado disso vem sendo o aumento da apreensão de investidores e a iminente queda da atividade econômica global. Como sabemos, o mercado antecipa os fatos e a busca por liquidez foi a regra nos mercados.

Mas foi aqui do nosso lado que ocorreu um fato que pode servir como uma grande lição ao Brasil.

Na Argentina foram realizadas as prévias das eleições de 2019. As prévias servem para escolher os candidatos, mas, como as chapas já estavam definidas, o que se viu foi uma espécie de plebiscito para a eleição.

E o resultado surpreendeu! Enquanto as pesquisas mostravam um empate técnico entre os dois principais candidatos, a prévia acabou mostrando uma grande vantagem do candidato de oposição.

A chapa de oposição é formada por Alberto Fernandez – ex-chefe de gabinete dos Kirchner e pela própria Cristina Kirchner na posição de vice. E foi justamente durante o governo Kirchner que a Argentina entrou numa espiral de gasto excessivo e endividamento que acabaram gerando uma profunda crise econômica e inflação – e ainda calotes da dívida.

Justamente por isso a chapa é vista com maus olhos pelos investidores. E o reflexo disso foi visto imediatamente após a prévia.

Confira a nossa análise semanal do cenário macroeconômico com foco nos investimentos, por Alexandre Amorim, CGA.

A Bolsa caiu praticamente 50% desde então, assim como o valor dos títulos de dívida – que já precificam o risco de calote. E o calote não veio por pouco – os juros da dívida que precisavam ser pagos foram postergados e a dívida do país com o FMI está indo para a mesa de negociações.

A taxa de juros do país foi elevada para 74% ao ano, mas isso não foi suficiente para evitar a desvalorização da moeda em 25%. Uma série de medidas populistas – incluindo congelamento de preços e aumento do salário mínimo foram tomadas. Mas não há luz no fim do túnel.

E por que isso é uma lição?

Os problemas argentinos, de certa forma, se assemelham com os nossos. Excesso de gastos do governo, endividamento excessivo, máquina pública inchada e a crença no populismo. Algumas coisas importantes nos diferem deles, já que conseguimos controlar a inflação que nos assombrou alguns anos atrás e trazer os juros para os menores níveis da história.

Nossas reservas cambiais também são mais altas, o que nos protege de choques.

Mas a lição é importante, pois mostra o que poderia ter acontecido conosco se o Brasil não tivesse mudado fortemente a forma como conduzia sua economia. Hoje temos uma equipe econômica competente e coesa e estamos trilhando o caminho para tornar o Brasil mais enxuto e eficaz. Mas temos que tomar muito cuidado, pois o caminho está longe de ser fácil.

Que a lição nos sirva, porque o Brasil é um país com infinitas possibilidades e um grande potencial de crescimento. Mas tudo isso pode ser desperdiçado com decisões erradas.

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